Acredito muito no que nos une. São coisas enviadas por Deus estas que unem pessoas. Todo o amor é enviado por Deus. Mas há amores que nos deixam mais conscientes disso.
Quando te escrevo daquela maneira, é porque preciso de dizer coisas que não disse aos teus olhos. Porque ainda não sabia o que dizer. Porque não tive coragem. Ou, porque as ideias só se organizaram quando fiquei sozinha.
Às vezes, não consigo dizer-te tudo o que penso, tudo o que quero. Fica meio que atravessado… encaracolado no medo… medo de qualquer coisa. De exagerar… Medo de trair o que quero dizer, porque nem sempre digo o que quero ou como quero, como a ideia se criou na minha cabeça.
Ou, talvez, porque tenha vergonha. Às vezes, tenho vergonha de amar. Achas possível? Sinto-me inibida quando digo ou penso em dizer que te amo. E, às vezes, penso… será que digo? Como digo? (…) E é contigo que vou soltando, aos poucos.
(…)
Sem esperar. Como se tivesse uma segunda pele. Era eu a sentir-me mais do que o meu próprio corpo. Éramos Eu e o que me Habita… a Serem. Contigo.
(…)
Escrever é a forma que encontrámos, Eu e Elas, de acalmar a alma e de a pôr a falar com o mundo. Não te conseguiria contar tudo nos olhos. Não ainda, pelo menos. Nos olhos, consigo ferir, consigo colocar a voz. Consigo vociferar coisas que magoam às vezes, num tom poderoso, que ecoa nas coisas. Mas falar de amor nos olhos ainda consigo pouco.
Escrever é uma terapia de silêncio. Poupar as palavras, trabalhá-las, pensá-las. Aguardar para que ganhem um sentido. Para que ajudem a descobrir-me. A entender-me. Isso demora.
Miguel Sousa Tavares diz que escrever é diferente de falar. É usar as palavras que guardamos. Diz que se falarmos demais, já não escrevemos, “porque não resta nada para dizer”. Acho que é isso.
No palco, rio me mais, digo coisas mais parvas… Choro também. Sou menos sagrada. Como se houvesse graus de divino…
Mas não consigo ainda contar-te assim as coisas… Não é por mal. É mesmo porque só sei “falar” assim. É a escrever que as coisas saem do ténue e ganham contorno, nitidez. Ou, então, aplico o verbo amar na primeira pessoa do singular e pronto… “Amo-te” resolve sempre qualquer coisa.. . “Amo-te” resolve tudo. Ou quase. E é por isso que é difícil dizer.
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#ElasDasVidas