29/06/19
Um ano terminou. Mais um. Aqui na escola. Parecem muitos e talvez o sejam.
Foram anos demasiados. Demasiados anos a dar explicações. Talvez eu não queira mais. Talvez eu queira algo novo. Talvez eu possa sonhar com algo novo. Por muito que digam – que eu ouça e diga e os “outros” repitam. Talvez, talvez eu seja livre. Talvez eu possa começar de novo. “Assim vais afastar-te da tua missão” (quando tinha 16 anos e 20… também deixei as explicações… será que deixei? Ou será que fui aprender novas coisas?… sim, esqueci-me daquilo em que era boa… escrever e ensinar… e não me quero afastar de mim… não é uma decisão por dinheiro. Só não quero mais dar explicações. Temos a salinha… gostei dos pais… dos alunos… de ter cá a festa, mas é isto? Não sei. Gosto dos alunos e de orientar… mas a parte de gerir explicadores chateia-me…)
Repare-se no início do texto e no meu sorriso agora. Mordo os lábios. Face à possibilidade do novo. Ouço a banda sonora do Orgulho e Preconceito e tudo me parece novo, capaz de recomeçar, de ser recomeçado. Talvez a escrita me devolva luz.
(E a propósito e para acompanhar:
)
(…) deixar a vida acontecer. Ver no que dá. Amar em cada momento, em cada segundo, como agora.
Tenho tanta clareza com “os outros”. Talvez os ajude, enquanto me esclareço a mim sobre o que é. Talvez esteja a ordenar-me a mim enquanto os “ajudo” a eles. Não sei dar aqueles conselhos para mim. Não sei ser aquela boa pessoa para mim. Para mim estou sempre cheia de pedras. Acho até uma sorte, um verdadeiro milagre, as pessoas tratarem-me tão bem… face ao pouco que confio em mim, face ao medo que ainda ouço em mim…
Talvez eu não seja assim tão má. Talvez a minha alma perfeita esteja mais ao de cima… só eu ainda não tenha visto. Dói-me o coração. Frase de 2019. O que falta para deixar de doer? Onde ainda preciso de ser honesta comigo? O que preciso de largar? De deixar ir? Será que preciso? Talvez precise de me tratar melhor, de me amar… isso ainda é tão difícil…
Não sei para onde vou. Talvez saiba. (…) o Único que lê sempre tudo, que me sabe, que me ama… que me sente… dá para resolveres? Dá para me dares O caminho?
Já O deste.
Escrevo, porque o mundo ganha a sua ordem de certa. Escrevo, porque sou a minha melhor companhia, quando escrevo. Escrevo para me lembrar de Mim. Escrevo… tudo o resto ocorre. Os “para” são inventados. Amo amar. Amo a vida. Amo a música.
Escrevo, porque o mundo ganha outra ordem cósmica… ou a ordem estava lá e eu não via. Escrevo, porque não tenho medo. Quando escrevo, o medo acaba. Escrevo, porque o medo passa. Escrevo. Porque escrevo. O resto acontece. O medo passar é o meu maior milagre.
Quando escrevo, confio na vida. É como se a ordem cósmica voltasse. Tudo volta ao seu lugar. Ou tudo já estava no seu lugar e eu só não via. Quando olho para 2016 e vejo porque fui tão feliz… talvez escrever todos os dias, de uma forma frenética e obcecada tivesse ajudado. O medo acaba. Não é que seja invencível. Sou vulnerável e aconteça o que acontecer, Há uma ordem que se levanta.
A escrita tem o dom de me ordenar. Sai de mim. Talvez seja isso. A ordem de dentro. Estou muito influenciada pelo Elas do Avesso I, ando a lê-lo… pela primeira vez. Talvez para me lembrar de mim. De como sou sábia, de como está tudo em mim. Ando a buscar coragem em mim. Os meus diários são a minha oração. E Deus sabe. Ele só estava à espera que eu voltasse. Além dos queixumes, dos livros, das meditações e das rezas… é aqui o meu lugar. A escrever. É aqui que eu amo. É aqui que eu posso ser eu e ninguém me chama… ninguém me faz mal. Aqui não há separação entre mim e o mundo. Aqui sou eu. Eu, o computador… que faço? Não há nomes. Explicar um processo que se chama Amor? (Explicar é perder; post scriptum)
Estou feliz. Reencontrei-me. Reencontro-me sempre. A cada nota. A cada novo rumo. A cada escrita.
Estou aqui. Eu de novo.
E até a prosa voltou. Para me ordenar.
A Poesia cura-me. A Prosa ordena-me. Põe a cura no seu lugar.
Amo escrever. Amo a vida. E basta pensar sobre isso para duvidar. Ainda não perdoei 2018. Ou, melhor, e talvez seja isso, ainda não me perdoei a mim. Mas há algo para perdoar? Será que não houve uma Lei Cósmica a imperar? A fazer-me ser quem sou? A olhar os meus erros… a cuidar de mim?
(…)
#ElasDoAvesso
(…) – texto suprimido; material futuramente disponível (em outros suportes)