No meu corpo moram os rostos de outra altura
Moram os amores de outra altura
E mora o perdão também
Mora o que nunca foi
Mora o que virá
Mora o que nunca foi
E o que o fogo me promete
Moram-me as dores e o medo
O que não sei
E o que deixo para trás
Mora-me a vida e o que nunca foi
Moram-me a verdade e a novidade de cada momento
Mora-me um girassol a brincar comigo
Mora-me vida
Em mim também moram os rostos
Moram suecos e loiros
Pretos e africanos
Mora-me gente
Moram-me ombros de poeta
Costas de ocidental
Postura de grego
E rabo de preta
Mora-me vida que aqui está
A vida que me aconteceu e que eu quis
Ou será que me quiseram?
Não sei de onde vim nem o que me origina
Os livros dizem que sou ficção
Eu digo que sou vida
Pura essência de vida
Esta vida que pergunta não pode ser outra coisa que não isto: Vida
Mora-me o Samba e os dorsos a dançar(em)
Mora-me a morte e mora-me a vida
Um muro de contrastes
Mora-me o amor e o desamor para sempre
Pode ser que não
Que tudo se renove e se misture
Nos pratos da minha dança
Na poesia dos meus braços
E na gravidade do meu cu
Pode ser que tudo se misture
A sombra e a miséria
A luz e a fera
Pode ser
Que tudo seja como é
Pode ser que tudo esteja certo
Pode ser
#ElasDoAvesso