Às vezes perguntam por que escrevemos.
Porque temos de escrever. Porque nos recuperamos quando escrevemos.
Quando escrevo, o vento assalta-me o cabelo, a cara, os lábios e liga-me os fios das coisas. Às vezes, escrevo porque preciso e acho que não vai sair nada de jeito. É como uma caneta que tem de mexer, sem saber ainda muito bem o que vai fazer. Depois, alguma coisa entra aqui e trata do que tem a tratar, do que tem para dizer.
(Ver as nuvens a andar devagar, enquanto escrevo, lembra-me de quem Sou, o que quer que isso signifique. Arranca-me de mim sem me tirar, de facto, e navega-me para dentro).
Escrever faz-me feliz. Traz sentido, sem ter necessidade de perguntar pelo sentido. E a única coisa que espero, quando escrevo, é arrancar os outros… é ajuda-los a dar luz aos olhos e, se me deixarem, ajuda-los a serem mais felizes quando me leem, porque foi um pedaço de vida que me saiu… e a vida não se pode guardar. Ainda assim, mesmo sem leitores, teria de escrever. Como Rivera disse a Frida Kahlo “se fores pintora, vais pintar sempre.” – quando Frida lhe pergunta se vale a pena continuar a pintar, se ele acha que ela tem talento para viver da pintura-. E, de facto, quando é o que vem de dentro, não importa se nos vai servir de sustento… vem de dentro, temos de o partilhar com os outros… mesmo que isso aconteça de madrugada, nas pausas do trabalho, na esplanada que espera o autocarro.
Escrevo desde que aprendi a escrever. Vou ter de escrever sempre. Escrever arranca-me respirações fundas. Como esta. Não vou, contudo, ceder à hipocrisia da moralzinha desprendida e dizer que é igual escrever com ou sem leitores. Escrever com leitores abana-me, sacode-me as vísceras… e faz com que saiba que, por estar ausente 4 dias, preciso, desesperada e inelutavelmente preciso, de vos deixar coisas.
Obrigada a todos os que leem as #Elas. A todos os que leem e aos que ainda vão ler. Dão luz cá dentro.
#ElasDoAvesso
#ElasDasVidas
#ElasGratidando