Vou beijar outras cores
Vou lamber outras línguas
[Ainda te amo, mas já não quero.
Vou conhecer outra pele
Vou dar o nariz a outros cheiros
Ter outro vinho na boca
Conhecer outras horas na cama
Há homens que gosto de amar de manhã
A ti gostava de amar à tarde
Faz inverno
É tudo frio
E, por mim, vou amar esta pele de noite
Há um mar que os olhos me prometem
Há um salgado que eu quero na língua
Os homens sabem-me sempre a sal
E os meus dedos querem novos veludos
Novos medos
Novas permissões
Novas cortinas
E os meus olhos precisam de segredos novos.
Ainda tenho medo de me dar. Fico esfíngica. Espero. Espero esfíngica, porque isso de o querer parece mal – a ele e ao fumo do cigarro que lhe foge mais lento nos olhos que me olham mais -. Assim, parece só fatal e isso fica-me bem. Espero assim, de lábios pousados – os lábios sempre se coroam -, desenhados no vermelho e rio-me no rímel dos olhos da noite que passou. Espero. Espero sempre.
Até que um dia o vou sujar de batom e saliva. E o mar todo vai ser meu. Vou conhecê-lo salgado. Imagino-o assim, suado, moreno como ele é… A desenhar-me o tesão improvável do amor que me quer dar, com a barba toda que se crava agora na minha cara, nos ombros e no colo a descobrir.
Voltei a sentir a vida insensata por dentro. Desabotoada, deseducada como eu sou. Sou um rio outra vez, a correr na ponte desdita que o quer. Mas não hoje. Não agora. Ainda.
Voltei a respirar ao mesmo tempo no calor das entranhas, na pureza do coração e nas asas dos olhos.
#ElasDoAvesso