Gosto do calor inusitado de outubro… dos terraços, das esplanadas escondidas, abraçadas por árvores e troncos, por pássaros que nos levam para outro sítio, para longe, longe do que é lá fora.
Gosto do cheiro da roupa a secar, que rompe a parede da esplanada, agora; a parede que me esconde do mundo – ou me leva a ele, ao que é Verdade.
Gosto do cheiro da lavanda, do jasmim e do açaí do ar – é o cheiro do céu -, dos pássaros e da paz da cadeira, de frente para as árvores.
Gosto dos pássaros que me rasam os olhos, de peito estendido e orgulhoso, de quem sabe que Ser é voo. (…)
Gosto do barulho da vida, do amor das asas que me acordam como um leque – o barulho de um leque a abrir é sempre irresistível.
É impossível não descansar nele, no amor da vida.
Gosto do chilrear que se esconde nas folhas, a pedir-me que o procure… é sempre um ritual de sedução que a vida faz comigo – e connosco, é só ver com o peito.
Gosto da vida que se abre em verde.
Chega agora a limonada e o sorriso de quem a serve – não serve de servir, serve de amor.
É tudo insensatamente belo. Um belo que , porventura, não é de cá… ou é dos meus olhos, que veem mais, sendo.
As coisas só podem ser belas e os pássaros só podem voar – bonitos, porque não sabem que são, sendo, de peito estendido.
A limonada funde-se com o verde e eu procuro senti-la no efémero sensível do copo. Mas os olhos estendem-se, como os pássaros, e descobrem de novo, o rosa e as riscas no estendal, que fazem curvas de perfume no ar – e eu sou lavanda e riscas e rosa e pássaros e o som que acontece.
É aí que eu vejo – quando sou tudo com todos, do unanimismo que, um dia, não podemos mais evitar. Às vezes, o corpo obedece ao dentro. E é aí, só aí que eu Sou, ou que me (re)lembro que sou.
#ElasDoAvesso